Cap. 110
McQueen se levanta e começa a perambular pelo cômodo. Ele faz pequenos gestos, quase espasmos com as mãos, como tentando formatar o que está para dizer. Voltando a sentar, ele encara Augustus com olhos bem abertos e fala, na verdade, quase murmura: — Eu falhei.
O prefeito respira fundo e Augustus aguarda em silêncio. Não é hora para perguntas ou interrupções.
McQueen abaixa a cabeça e continua: — Com a guerra em andamento, estávamos cada vez mais atribulados na proteção do presidente, acompanhando cada viagem, cada evento, cada passo. Só não o acompanhávamos no banho e no leito. Mas ficávamos aguardando do lado de fora.
— Eu mal via minha família, mas sabia que manter Lincoln vivo era o melhor para eles e para o país. Aquele homem lutava por um futuro que eu também desejava para meus filhos. Quando a guerra acabasse, e nossa vitória já parecia próxima, eu poderia passar mais tempo com Ruth e as crianças.
Erguendo a cabeça, McQueen olha para seu hóspede com uma tentativa de sorriso irônico: — Daí veio o “mas”.
— Mas, os criminosos não pararam durante a guerra. Alguns até foram libertados para lutarem pela união. Porém, alguns deles, antes de irem para o front, decidiram acertar as contas com quem os havia delatado ou prendido.
— Foi assim que chegaram à minha casa... e à minha família... sozinhos e indefesos enquanto eu cuidava do presidente.
McQueen aperta os olhos e já não tenta mais limpar as lágrimas. Augustus, de olhos arregalados, encontra-se em um raro momento de não saber o que dizer.
O prefeito prossegue: — Eu estava em Washington quando veio a mensagem. Ruth havia sido violada e abusada, mas continuava viva. As crianças, não.
— Voltei imediatamente para Chicago. Cheguei em casa e encontrei minha cunhada chorando, caída no chão da sala. Por mais que eu gritasse e a chacoalhasse, a maldita mulher não conseguia me dizer o que tinha acontecido.
— Ela só apontou para a escada que levava ao andar superior da casa. Subi correndo, mas, no fundo, não queria que a escada terminasse pois já sabia o que iria encontrar.
— E eu tinha razão.